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Monthly Dharma Thoughts

O Sermão do Rev. Prof. Chiko Naito

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O Sermão do Rev. Prof. Chiko Naito

No dia 11 de janeiro de 2014, na ocasião do Goshoki Hoonko,
no Sogaisho do Mombo-kaikan, às 11hs (40 minutos)

 

“Quando eu me tornar em Buda, todos os seres das dez direções, com a Mente Sincera e a Mente Confiante que desejarem nascer na Terra Pura, se não nascerem, eu não me tornarei em Buda” - 18º Voto do Sutra do Buda da Vida Imensurável –

 

   Sejam bem-vindos a Hoonko no Templo Matriz do Hongwanji. Ao receber a oportunidade do Hoonko, gostaria de que me permitissem falar um pouco. Estamos no Goshoki Hoonko. Qual é o significado do Goshoki Hoonko? Recebemos a oportunidade de estar na data de falecimento de Shinran Shonin, pelo calendário atual, no dia 16 de janeiro, em que manifestamos o nosso agradecimento à dávida do Shonin. Ele faleceu no ano 1263. Então, já se passaram 752 anos. Recentemente o 750º Ofício em memória foi realizado. O que fazemos para agradecer à dádiva de Shinran Shonin? Vemos nos altares dos pavilhões de Amida e do Fundador com diversas oferendas especiais. Podemos dizer que estas também são manifestações do nosso agradecimento. Porém, quando pensarmos na vida de Shinran Shonin, vemos que ele desceu do monte Hiei, encontrou com Honen Shonin, depois foi exilado à Echigo, e a partir daquele momento, dedicou a sua vida exclusivamente a transmitir o ensinamento do Voto Original a todos: o Voto Original do Nembutsu autêntico. Por isso, para que Shinran Shonin ficasse mais alegre, melhor seria ouvirmos o ensinamento do Nembutsu do Voto Original que ele aclarou. Penso que esta é a melhor forma de agradecemos a ele, e assim eu gostaria de tentar fazer agora.

 

    O ensinamento do Voto Original é, dentre os 48 Votos que o Bodhisattva Dharmakala fez, exclusivamente o 18º voto, enunciado na frase que li no começo da palestra. “Quando eu me tornar o Buda, todos os seres das dez direções: dez direções significa todas as direções; as quatro direções, quatro intermediárias e também acima e abaixo. Todos os sentidos em três dimensões, ou seja, em todos os cantos. O voto que mira a todos os seres como seu objetivo. “Quando alguém, receber a Mente Sincera, com a Mente Confiante, desejar nascer na minha Terra, e recitar o Nembutsu apenas dez vezes, se, mesmo assim, não nascesse na Terra Pura, eu não me tornaria o Buda”. Isso é o Voto Original. Este voto conclui excluindo os cinco ofensas e aqueles que caluniam o Dharma Correto, por tanto, não referirei a esta parte hoje. Este Voto está expresso no Tannisho, escrito por seu discípulo Yuien, “Aquele que confiar no Voto Original, e recitar o Nembutsu, se tornará o Buda”. O Voto Original refere ao Nembutsu e a Mente Confiante, isso quer dizer, que recitando o Nembutsu com a Mente Confiante, você se tornará o Buda”. Portanto, o Voto não diz, “Se recitar o Nembutsu e confiar neste Voto Original, eu o salvarei”. Shinran Shonin disse que o Nembutsu e a Mente Confiante, ambos, são do Outro Poder (Tariki). A Mente Confiante do Outro Poder e o Nembutsu do Outro Poder. Isso quer dizer que graças a ação do Tathagata, a Mente Confiante nasce pela ação do Tathagata, somos capacitados a recitar o Nembutsu. Esse é o sentido de que Shinran Shonin percebeu sobre a Mente Confiante e o Nembutsu. Por isso, o significado do Voto Original não é “Se confiar no Voto e recitar o Nembutsu, eu te salvarei”. “Salvar” aqui significa “possibilitar alguém nascer na Terra Pura e realizar a Iluminação do Buda”. O verdadeiro sentido do Voto Original é “Possibilitar alguém recitar o Nembutsu, possibilitar alguém confiar no Voto e possibilitar alguém nascer na Terra Pura para atingir a Iluminação”. O Voto Original é isso.

O ensinamento do Budismo mostra o caminho partindo do mundo da ilusão para o mundo da Iluminação. Entre as escolas budistas, existem vários ensinamentos. No Japão, há as seis escolas: Sanron-shu, Jojitsu-shu, Hosso-shu, Kusha-shu, Kengon-shu e Lit-tshu que nasceram na era Nara (século 8); e as escolas que começaram na era Heian (século 9-11): Tendai-shu e Shingon-shu; e as que nasceram na era Kamakura (século 12-14); Jodo-shu, Jodo Shinshu (a qual pertencemos), Zen-shu e Nitiren-shu, em resumo. Cada escola tem seu ensinamento, o qual pode parecer ser diferente de outros ou, às vezes, aparentemente contrário, porém, apesar de tanta variedade, podemos resumir que todas as escolas ensinam o caminho que transcende da ilusão para a Iluminação.

 

    O Shakyamuni ensina que “viver do modo ilusório” é “sofrimento”. Em outras palavras, os nossos sofrimentos existem porque não sabemos como viver do modo correto. Para solucionar esse sofrimento, ele nos ensina a alcançarmos a visão correta sobre o viver. A Iluminação Verdadeira significa ter a visão verdadeiramente correta. E assim, quem atingiu a Iluminação chama-se o Buda.
 
    Shakyamuni, renunciou ao mundo, após, certa ocasião em que, tendo saído do castelo, viu um velho, um doente e um morto, e questionou por que neste mundo há tanto sofrimento. Por fim, viu um asceta iluminado que vestia panos puídos e velhos. Nele, Shakyamuni viu que havia um caminho para solucionar o sofrimento. Assim ele renunciou ao mundo. Por isso, podemos dizer que o ponto de partida do Budismo é a solução do sofrimento. A solução do sofrimento implica em obter a sabedoria correta. Isso quer dizer a travessia da ilusão para a Iluminação, ou seja, do sofrimento para a verdadeira alegria e prazer. O mundo da Iluminação é, no sentido verdadeiro, o mundo da alegria autêntica. Não sei exatamente como é, pois, não atingi ainda a Iluminação. Mas, posso dizer que ficar livre de todas as amarras deve ser uma liberdade autêntica. Nós somos amarrados por nós mesmos com nossas amarras. Estamos sem liberdade por nossa própria conta. O Mestre T’an-luan da China, nos compara com o bicho-da-seda que amarra si próprio com sua saliva, e com isso, com essa imagem ele nos ensina como nos aprisionamos na ilusão. (O Tathagata) direciona os seres desta ilusão convertendo-os ao mundo da Iluminação, ou seja, ao prazer verdadeiro e à liberdade absoluta. Esse é o real voto de todos os Tathagatas. Entre eles, (o Voto do) Tathagata Amida, é dedicado aqueles que não conseguem caminhar por si mesmos da ilusão para a Iluminação, e a salvação destes significa a salvação de todos os seres das dez direções. Para esse caminho da salvação, ele [o Tathagata Amida] criou o Nembutsu através de sua análise profunda. Por isso, o Voto Original é para aqueles que não têm forças para sair da ilusão, nem conseguem se aproximar um pouco da Iluminação, Ele almeja fazer com que os seres confiem, recitem o Nembutsu e nasçam na Terra Pura. Esse é o Voto Original.

 

    E esse “Voto” de fazer confiar, recitar o Nembutsu e nascer na Terra Pura, se completa com o “Poder” de fazer confiar, recitar o Nembutsu e nascer na Terra Pura. Esse Poder que foi completado se chama o “Poder do Voto Original”. O Poder que foi completado cem por cento de acordo com o Voto Original. Entre o Voto e o Poder não há discordância nenhuma. Numa das obras do Mestre T’an-lan, encontramos uma frase “O Voto e o Poder plenamente completados - Gan-riki jôju”. Ele interpreta essa frase “O Voto possibilita ao Poder realizar, o Voto sustenta o Poder.”(Chushakuban p.131). O Voto possibilita ao Poder se concluir. O Poder se fundamenta no Voto. Isto é “realização plena - jôju”. O Voto possibilita ao Poder realizar e o Poder se fundamenta no Voto. O Mestre continua “O (Verdadeiro) Voto não existe em vão, o Poder não existe sem fundamento. O Voto que não possibilita o Poder, se torna o Voto incompleto.

 

    Temos vários desejos. Cada um de nos tem um nome naturalmente. Nos nomes em geral estão contidos os desejos dos pais. O desejo de que seu filho e sua filha se torne alguém como os pais desejam. Mas, na maioria dos casos, o desejo dos pais será traído. Eu próprio vivi traindo os desejos dos meus pais. Também, eu vim sendo traído por meus filhos. E meus filhos idem. Isso acontece porque não temos a força de acordo com o voto. Temos desejo de que filhos se tornem “assim como nós desejamos”. Mas não temos a força verdadeira. Esse voto (desejo) se chama “o voto em vão”. E a força que temos é sem razão e sem fundamento. A força que não se fundamenta pelo voto é a força em vão. Quando comparamos o voto e a força, podemos citar um exemplo da nossa economia. Cito uma história apenas como exemplo, não é um fato real. Suponhamos que há uma fábrica pequena que precisa de 10 mil dólares até amanhã, se não, irá a falência. O dono desta fábrica visita seus conhecidos para pedir dinheiro emprestado. Visita seus amigos da infância. Alguns de seus amigos podem dizer que desejam salvá-lo, pois brincavam juntos quando eram crianças, mas não têm recursos. Ainda que eles tenham seus desejos, não têm a força. Nesse caso nada pode ser é útil. [O dono da fábrica] pode perguntar também a um outro amigo também de infância. Esse diz que foi mal tratado pelo dono da fábrica, e que ele tem muito mais de 10 mil, mas nem pensa em emprestar um tostão para ajudar. Neste caso há a força, para salvar, mas não há desejo, assim, este voto não funciona. Quando existe o desejo de salvar e se dispõe da força, aí existe o verdadeiro voto. Aqui se realiza a “salvação”. Mestre T’an-luan quer dizer isso e completa, “a força e o Voto concordam em perfeita harmonia e não se diferenciam.” Isso se chama “realização plena -  jôju”. Quando o Voto está em completo acordo com seu voto, quando a força concorda e combina com o voto, isso é o completar o Voto e Poder.

 

    Em Jodo Shinshu, é esse o sentido quando se fala em Outro Poder (Tariki). Mas podemos ver a mesma frase Outro Poder (Tariki) em outras escolas. Há ascetas que se dedicam à prática severíssima no monte Hiei, da Escola Tendai, a prática chamada de Sen-niti-kaiho-gyo (peregrinação na montanha durante mil dias). Mas, eles sempre expressam que só conseguiram completar essas práticas, porque o Tathagata fez eles realizarem. Dizem que era o Outro Poder. Porém mesmo que eles digam assim, aquela prática não é possível para nos. Quando a realização ou não de uma prática depende da capacidade das pessoas, isso não é o Outro Poder de Jodo Shinshu. Quando a salvação independe de qualquer condição, isso é o Outro Poder que Shinran Shonin nos ensina. E esse Poder é completado com a forma chamada “Namo Amida Butsu”. Shinran Shonin retoma o ensinamento de Honen Shonin de que o Voto do Tathagata Amida se completa na forma do Namo Amida Butsu. Não necessariamente só Namo Amida Butsu. Há vários nomes sagrados, em seis sílabas: Namo Amida Butsu, em oito sílabas: Namo Fukashiguiko Butsu, em nove sílabas: Namo Fukashiguiko Nyorai, e Kimyo Jinjippo Mugueko Nyorai em dez sílabas. Todos são iguais. Entre eles, Namo Amida Butsu é mais curto. Se apenas olharmos as caracteres chineses de Namo Amida Butsu, não podemos entender nada. É o Voto que se torna o Namo Amida Butsu.

 

    Outro Poder também tem vários sentidos. Citamos uma história. Um navio naufragou. Pessoas no porto, acendem fogo para iluminar o mar. Isso ajuda muito aqueles que foram jogados no mar em completa escuridão,  possibilita que vejam para onde devem nadar, a distância até a terra, e estimula os tripulantes no mar. Isto alguns podem chamar de Outro Poder. Também há alguém que ajuda os tripulantes com seus barcos, puxando-os para os salvar. Mas neste caso também tem há uma condição, só quem sabe nadar, e quem está sobrando ainda tem força para segurar as mãos de que ajudam. Mas, aquele que não tem mais nenhuma força, que já está se afogando sem nenhum resquício de força, esse não tem chance de ser salvo. Se aparecer alguém, que se jogue no mar, salve quem não tem força alguma, segurando o corpo e o ponha no barco. Assim é a salvação de Amida.

 

    Amida se jogou neste mundo de ilusão, tomando a forma do “Namo Amida Butsu”. Amida vem ao nosso mundo. Isso é o Tathagata Amida. Amida é o Tathagata que se tornou as palavras “Namo Amida Butsu”. Shakyamuni Buda nasceu neste mundo tomando forma humana como nós. Quando ele atingiu a Iluminação do Buda, se tornou um pouco diferente de nós. As figuras do Buda que vemos têm várias características diferentes. Por exemplo, a cabeça de Shakyamuni, tem uma elevação grande, que simboliza o cérebro maior que o normal, representando a sabedoria superior. As solas planas do pé. Isso significa que quando o Buda se levanta, não há lugar no solo que ele não toque, simbolizando a igualdade na salvação. Porém, Shkyamuni toma uma forma mais ou menos igual a nós. Amida toma a forma de palavras, que podem ser escritas. Quando ele é escrito, se torna o nosso Go-honzon, o objeto de adoração, o próprio Amida. Quando é recitado em voz alta, ele se torna o Nembutsu - Namo Amida Butsu.

    

    Meu professor era Murakami Sokusui. E o professor do Prof. Murakami foi Ohe Junjo. Eu também assití algumas aulas dele. Esse professor usava frequentemente uma comparação. Como ele foi uma pessoa do passado, citava algo, hoje em dia, antigo. Ele dizia “Quando se girar o botão do rádio, a voz sai”. Hoje ninguém “gira” o botão para o rádio funcionar, simplesmente aperta o botão. Sai a voz, porque as ondas estão chegando até o rádio. Se as ondas não tivessem chegado até o rádio, a voz não sairia. Isso não quer dizer que as ondas chegam quando nós girarmos o botão. Não quer dizer que quando giramos o botão, as ondas chegam. As ondas já estão chegando, e quando giramos o botão, sabemos que as ondas estão passando por aqui. O Nembutsu é a mesma coisa, ele dizia. As ações do Tathagata Amida sempre estão chegando a nós sem parar. Quando recitamos em voz alta , Amida aparece no Nembutsu. Quando recitamos o Nembutsu, é uma evidência de que a força da Compaixão do Tathagata Amida está chegando a nós. Não é que a ação do Tathagata Amida não chega enquanto não recitamos o Nembutsu. Em cada instante, a ação salvadora do Tathagata está chegando sempre a nós. Assim, o Prof. Ohe usava essa parábola. O Nembutsu não é para pedir que o Tathagata nos salve. O Nembutsu do Jodo Shinshu não tem esse significado. Do ponto de vista da ação do Tathagata, pode se dizer que a ação do Tathagata está agindo como a voz. Do ponto de vista de quem recita o Nembutsu, significa um agradecimento ao Tathagata. Não é “Por favor, nos salve.” Mas “Obrigado por nos salvar.” Do ponto de vista da ação do Tathagata, é o chamado de que “Salvarei sem falha.” Assim Shinran Shonin nos ensina.

 

    Aquele que por si mesmo não consegue se libertar do mundo da ilusão, em outras palavras, quem não consegue gerar o que seja útil para a Iluminação, a esses seres, o Tathagata Amida faz nascer na Terra Pura para que realizem a Iluminação. Essa força é Namo Amida Butsu. Assim podemos dizer que no Namo Amida Butsu, todos os benefícios necessários para a Iluminação estão contidos. Como nós somos “zero”, a força do Tathagata é “cem”. Se nós tivéssemos “noventa”, a força do Tathagata seria “dez”. Se tivéssemos “cinquenta”, a força do Tathagata bastaria ser só “cinquenta”. Se nos tivéssemos mesmo apenas “um”, o Tathagata seria “noventa e nove”. Mas somos “zero”. A força do Tathagata deve ser “cem”. A força para nascermos na Terra Pura é cem por cento graças ao Poder do Tathagata. A nossa força aqui não está envolvida nem importa absolutamente. Por isso, não adianta pedir pela nossa força, pois será inútil. Isso é, mesmo a força de pedir não é útil. Tudo é salvo pela força do Tathagata. Assim o Shinran Shonin nos ensinou.
Concluiremos este sermão com a leitura da carta de Rennyo Shonin.

 

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